Capitulo 2
- Deixe-me só
ajeitar aqui e... Pronto! Linda como antes!
- Obrigada! Meu
cabelo era realmente belo... - Disse com aquele sorriso amarelo
- Não fique
assim! Você ainda o tem, mas ele precisa crescer de novo - Disse ele com aquele
belo sorriso.
- Acho que você
vai precisar de mais paciência do que eu, porque lidar com uma pessoa no meu
estado não deve ser nada fácil.
- Acredite! Eu
já me preparei pra isso - Ele olhou para minha peruca - Eu imaginei que você
fosse sentir falta do seu cabelo, e então, quando me disseram que você teria
que passar pela cirurgia, usei os fios cortados para confeccionar uma peruca. Claro
que não é a mesma coisa...
- Já está bom o
bastante. Muito obrigada Oliver! - Lhe dei aquele olhar de gratidão, e toquei
meus cabelos; eram macios e belos, eu devia saber cuidar muito bem deles.
- Venha! - Ele
me deu a mão para me ajudar a levantar da cama - Vá se trocar! Quero que você
conheça sua vida.
Segurei firme a
mão dele e levantei-me; minhas pernas no começo não me deram muita firmeza,
pelo contrario, tremeram tanto que achei que elas não fossem aguentar o peso do
meu corpo; demorou algum tempo para que conseguisse sentir firmeza nelas o
suficiente para dar meu primeiro passo. Eu me sentia um bebê, mas a única
grande diferença, pelo menos em questão de tempo, é que eu não estava começando
a andar ou a conhecer o mundo, eu estava recomeçando.
Andei até o
banheiro com algum esforço e o apoio de Oliver; ele era uma ótima pessoa, ao
menos esta era a impressão de que o que eu tinha visto até agora me trazia; é
eu fui uma pessoa realmente feliz na escolha e acho que já mencionei isso. Olhei
o espelho e lá refletia uma imagem, que devia ser de uma velha conhecida de 28
anos atrás, mas a imagem que eu vi não me trazia à memória ninguém, apenas uma
completa desconhecida; o mais estranho é que a desconhecida que me olhava do
espelho se tratava de mim e eu não sabia nada sobre ela: seus gostos, suas
atitudes, seus medos e traumas, suas comidas e cores preferidas; tudo se
tratava de uma ficha em branco pronta para ser preenchida.
- Seu rosto
está um pouco inchado devido aos medicamentos, mas não se preocupe com isso,
logo voltará ao normal.
- Tudo bem! - Não
quis dizer pra ele que eu nem havia reparado nisso, afinal, como eu poderia
saber que meu rosto estava inchado se eu nem conhecia meu rosto? A única coisa
que eu conseguia reparar ali era uma pessoa acabada, totalmente diferente da
mulher bonita da foto, com aquele olhar forte, sedutor e seguro; o que eu via
ali era uma garota insegura, desesperada e com muito medo do mundo que
precisava conhecer.
- Você consegue
se virar sozinha? - Disse ele me entregando um vestido -Você gostava muito
desse vestido antes... achei que poderia... bem, quem sabe... não sei...! Te
trazer alguma lembrança?
Percebi a
tristeza presente na sua voz e peguei o vestido; era um vestido azul, estampado
com flores brancas, e que sinceramente, não me passava de um pedaço de pano
decorado. Na verdade, me surpreendi com meu terrível gosto! Na foto eu me
parecia com uma “puta” e ali eu parecia uma velha bem reservada.
- Eu devia ser
uma pessoa surpreendente em gostos! -Ele me olhou daquele jeito: “não entendi
isso” - Deixa pra lá, eu posso me virar sozinha.
Sorri, é claro,
mesmo que não me sentisse ainda capacitada para isso, não ia dizer que
precisava de ajuda. Ele podia ser meu marido e tudo mais, mas ainda não estava
pronta para me mostrar nua para ele.
-Tudo bem
então, vou deixar a porta encostada, qualquer coisa me grita!
E Ele se
retirou do banheiro, olhei novamente no espelho, e me desabei em lágrimas. É difícil
descrever o tamanho do desespero que eu sentia, sabe aquele desespero enorme de
quando você é criança? Estar perdido em um lugar desconhecido, com milhões de estranhos
a sua volta e você não sabe em quem pode confiar? Você se sente totalmente
abandonado e não sabe para onde correr? Pois bem, é muito pior que isso, estava
em um mundo que na minha cabeça era novo, com pessoas desconhecidas ao meu
redor falando de acontecimentos dos quais não tenho lembranças e sem saber em quem
confiar; senti-me só e abandonada, eu não sabia quem era a pessoa que me
esperava no quarto e que ia dormir do meu lado essa noite.
E pode ter
certeza que não existe crise existencial pior do que uma pessoa que acabou de
passar por apagão de suas memórias da vida.
Peguei o
vestido e comecei a me trocar lentamente. Eu não conseguia entender como aquilo
estava acontecendo e como minha cabeça podia me deixar na mão dessa forma. Movimentos
bruscos me deixavam tonta, então tentei não fazer muito esforço. Coloquei o
vestido, enxuguei minhas lágrimas e lavei meu rosto
- Amber, está
tudo bem ai dentro? Você está demorando um bocado
- Já estou
indo!
Olhei novamente
para o espelho e respirei fundo, pois era hora de começar de novo, e abri a
porta!
A cidade não me
ativou a memória. Eu morava em Londres, sabe-se lá desde quando, mas Oliver me
disse que nasci na Califórnia, nos Estados Unidos, e que mudei para Londres
depois da morte de meus pais, pois minha avó morava lá e ela cuidou de mim a
vida a toda, pelo menos enquanto viveu. Diz ele acreditar muito que esse fato
tenha me tornado a garota tão independente que ele conheceu, pois aos 16 anos
tive que começar a me virar por conta própria.
- Talvez,
então, eu fosse uma garota com fortes problemas psicológicos – Foi a primeira
impressão que tive de mim pela vida passada... E digo “vida passada” porque se
tornou outra vida que talvez eu nunca mais possa voltar ou ter parecida. O fato
é que, uma garota que tivesse perdido os pais aos nove anos de idade, mudando
de país e começado uma vida com a avó, que a deixou completamente só aos 16
anos de idade, não teria uma cabeça fácil de compreender e nem seria uma pessoa
amorosa e feliz com o mundo e a vida
- Não vou dizer
que você não tinha Amber, pois nenhuma garota que passasse pelo que você passou
conseguiria se tornar uma pessoa totalmente normal.
- Então isso
confirma que eu era problemática? - Disse enquanto observava a cidade pela
janela do carro; era um ambiente que me parecia bem movimentado, algo me dizia
que toda aquela agitação era agradável à minha personalidade. Londres me
parecia uma bela cidade
Percebi que a
pergunta que dirigi a Oliver o incomodou, mas não sei o porquê e confesso que
isso me deixou um tanto curiosa, ele estava parado olhando atenciosamente para
o sinal, ou na verdade não, já que parecia mais estar concentrado na busca de
palavras certas para o que viria a me dizer.
- Digamos,
Amber, que talvez recomeçar tenha sido melhor - Ele olhou rapidamente para meus
olhos e voltou o olhar para o sinal que estava se abrindo - Pense nisso como
uma segunda chance de começar uma vida feliz.
Pensei todo o
resto do caminho e não perguntei ou disse mais nada. Acho que ele esperava que
eu encontrasse as duvidas e perguntas que ele pudesse tentar responder e que as
lançasse quando estivessem prontas, mas a verdade é que eu podia entender bem o
que ele quis dizer com as ultimas frases; eu não era uma pessoa feliz na minha
vida passada e, por mais que tentasse meu passado e problemas ligados a ele
tinham me afetado. Perder a memória podia ser um grande beneficio para alguém
que sempre teve problemas com suas lembranças. Era uma chance de tentar
novamente, aliás, eu não podia mais sofrer com algo do qual não havia nenhuma
lembrança.
O bairro
parecia agradável. Um conjunto de classe média alta, penso que dinheiro não era
um dos nossos problemas. A casa, bem era
uma casa bem moderna, nada daquelas casas clássicas toda emoldurada e
enfeitada, ela era básica em seu tom branco, seus vidros transparentes, nada de
telhados monstruosos, havia um belíssimo telhado verde, com uma área social bem
agradável para acompanhá-lo. Era uma casa maravilhosa, com belas vistas da
cidade, um jardim que podia perder horas nele, apenas admirando e refletindo
sobre o dia.
- Gosta da sua
moradia? - Oliver me perguntou, enquanto eu admirava a casa, em seus mínimos
detalhes, parada em frente à porta de entrada
- Ela parece
agradável- Ele colocou um de seus braços sobre meu ombro e me puxou para perto
dele.
- Você que
escolheu ela.
- Bom, então eu
acho que eu tinha um bom gosto.
- Não quer
entrar para confirmar?
Fiz que sim com
a cabeça, e após passar pela porta de entrada pude confirmar que eu realmente
tinha bom gosto, cores, quadros, detalhes, mobília, tudo muito agradável,
aconchegante e receptivo e talvez, quem sabe, fossem mais receptivos se me
despertassem lembranças, mais as coisas continuaram como já estavam até ali,
nenhuma memória.
- Acha que
consegue viver aqui?
- Tranquilamente.
-Disse admirando o local
Foi então que
surgiu aos meus olhos uma senhora, saindo de uma das direções da casa
- Amber, essa é
nossa querida Janet, e ela está aqui para lhe servir em tudo que for
necessário.
Olhei para ela,
ela estava sorridente, retribui o sorriso, era uma mulher já de mais de meia
idade, seus olhos demonstravam sofrimento, com certeza uma pessoa muito experiente
com os jogos da vida, Janet tinha um cabelo curto e escuro, pele branca, olhos
castanhos, e uma magreza que aumentava ainda mais aquele aspecto de pessoa
sofrida. Ela se aproximou de mim, e só me dei conta disso quando ela já estava
bem próxima, de braços meio abertos em minha frente.
- Posso minha
Senhora? .-Encarei sua ação, então em toquei de que na verdade ela queria me
dar um abraço de boas vindas
- Claro que sim
Janet - Abri ainda mais meu sorriso.
- Fico tão
feliz em vê-la finalmente senhora, seja bem-vinda novamente a sua casa, estarei
aqui para servi-la em tudo que for necessário
-Muito obrigada
Janet - Disse retribuindo o abraço - E me perdoe, mais eu não me lembro de
você.
- Eu sei minha
senhora, Oliver já me deixou em alerta sobre toda a situação, espero que a
senhora possa vencer isso.
Soltamos
daquele abraço um tanto longo e apertado
- Eu também
espero. - Disse dando um passo para trás e voltando a fitar levemente seus
olhos
- Mas, venha senhora
Amber, lhe preparei algo, imagino que você estar faminta.
Era verdade, eu
estava faminta, a única coisa que tinha comido realmente sólida depois de dois meses,
era a leve sopa da janta do hospital no dia anterior, que alias era horrível, e
o café da manhã que tinham me servido mais cedo. Acompanhei Janet até a sala de
jantar, onde uma farta mesa me esperava, segundo ela lotada de coisas que eu adorava comer,e assim eu ia conhecendo um pouco
mais sobre mim, Oliver veio logo atrás e senti que aquele era um longo começo
de muitas coisas que eu ainda viria a passar.
Bom, vejamos o que posso dizer.
ResponderExcluirPrimeiro gostei da maneira que voce escreve, nada culto ao extremo mas ainda sim é uma escrita bonita.
Segundo o mundo normal nunca me atraiu, mas esse ta começando a ficar interessante.
Terceiro continue escrevendo que quero ver isso se desenvolver eim ;D
Ambeer non acredite neles ç.ç eles sao bons demais XD ainda acho isso o.o'' but still loving it!
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