terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Flash Back - Capitulo 2


Capitulo 2
- Deixe-me só ajeitar aqui e... Pronto! Linda como antes!
- Obrigada! Meu cabelo era realmente belo... - Disse com aquele sorriso amarelo
- Não fique assim! Você ainda o tem, mas ele precisa crescer de novo - Disse ele com aquele belo sorriso.
- Acho que você vai precisar de mais paciência do que eu, porque lidar com uma pessoa no meu estado não deve ser nada fácil.
- Acredite! Eu já me preparei pra isso - Ele olhou para minha peruca - Eu imaginei que você fosse sentir falta do seu cabelo, e então, quando me disseram que você teria que passar pela cirurgia, usei os fios cortados para confeccionar uma peruca. Claro que não é a mesma coisa...
- Já está bom o bastante. Muito obrigada Oliver! - Lhe dei aquele olhar de gratidão, e toquei meus cabelos; eram macios e belos, eu devia saber cuidar muito bem deles.
- Venha! - Ele me deu a mão para me ajudar a levantar da cama - Vá se trocar! Quero que você conheça sua vida.
Segurei firme a mão dele e levantei-me; minhas pernas no começo não me deram muita firmeza, pelo contrario, tremeram tanto que achei que elas não fossem aguentar o peso do meu corpo; demorou algum tempo para que conseguisse sentir firmeza nelas o suficiente para dar meu primeiro passo. Eu me sentia um bebê, mas a única grande diferença, pelo menos em questão de tempo, é que eu não estava começando a andar ou a conhecer o mundo, eu estava recomeçando.
Andei até o banheiro com algum esforço e o apoio de Oliver; ele era uma ótima pessoa, ao menos esta era a impressão de que o que eu tinha visto até agora me trazia; é eu fui uma pessoa realmente feliz na escolha e acho que já mencionei isso. Olhei o espelho e lá refletia uma imagem, que devia ser de uma velha conhecida de 28 anos atrás, mas a imagem que eu vi não me trazia à memória ninguém, apenas uma completa desconhecida; o mais estranho é que a desconhecida que me olhava do espelho se tratava de mim e eu não sabia nada sobre ela: seus gostos, suas atitudes, seus medos e traumas, suas comidas e cores preferidas; tudo se tratava de uma ficha em branco pronta para ser preenchida.
- Seu rosto está um pouco inchado devido aos medicamentos, mas não se preocupe com isso, logo voltará ao normal.
- Tudo bem! - Não quis dizer pra ele que eu nem havia reparado nisso, afinal, como eu poderia saber que meu rosto estava inchado se eu nem conhecia meu rosto? A única coisa que eu conseguia reparar ali era uma pessoa acabada, totalmente diferente da mulher bonita da foto, com aquele olhar forte, sedutor e seguro; o que eu via ali era uma garota insegura, desesperada e com muito medo do mundo que precisava conhecer.
- Você consegue se virar sozinha? - Disse ele me entregando um vestido -Você gostava muito desse vestido antes... achei que poderia... bem, quem sabe... não sei...! Te trazer alguma lembrança?
Percebi a tristeza presente na sua voz e peguei o vestido; era um vestido azul, estampado com flores brancas, e que sinceramente, não me passava de um pedaço de pano decorado. Na verdade, me surpreendi com meu terrível gosto! Na foto eu me parecia com uma “puta” e ali eu parecia uma velha bem reservada.
- Eu devia ser uma pessoa surpreendente em gostos! -Ele me olhou daquele jeito: “não entendi isso” - Deixa pra lá, eu posso me virar sozinha.
Sorri, é claro, mesmo que não me sentisse ainda capacitada para isso, não ia dizer que precisava de ajuda. Ele podia ser meu marido e tudo mais, mas ainda não estava pronta para me mostrar nua para ele.
-Tudo bem então, vou deixar a porta encostada, qualquer coisa me grita!
E Ele se retirou do banheiro, olhei novamente no espelho, e me desabei em lágrimas. É difícil descrever o tamanho do desespero que eu sentia, sabe aquele desespero enorme de quando você é criança? Estar perdido em um lugar desconhecido, com milhões de estranhos a sua volta e você não sabe em quem pode confiar? Você se sente totalmente abandonado e não sabe para onde correr? Pois bem, é muito pior que isso, estava em um mundo que na minha cabeça era novo, com pessoas desconhecidas ao meu redor falando de acontecimentos dos quais não tenho lembranças e sem saber em quem confiar; senti-me só e abandonada, eu não sabia quem era a pessoa que me esperava no quarto e que ia dormir do meu lado essa noite.
E pode ter certeza que não existe crise existencial pior do que uma pessoa que acabou de passar por apagão de suas memórias da vida.
Peguei o vestido e comecei a me trocar lentamente. Eu não conseguia entender como aquilo estava acontecendo e como minha cabeça podia me deixar na mão dessa forma. Movimentos bruscos me deixavam tonta, então tentei não fazer muito esforço. Coloquei o vestido, enxuguei minhas lágrimas e lavei meu rosto
- Amber, está tudo bem ai dentro? Você está demorando um bocado
- Já estou indo!
Olhei novamente para o espelho e respirei fundo, pois era hora de começar de novo, e abri a porta!






A cidade não me ativou a memória. Eu morava em Londres, sabe-se lá desde quando, mas Oliver me disse que nasci na Califórnia, nos Estados Unidos, e que mudei para Londres depois da morte de meus pais, pois minha avó morava lá e ela cuidou de mim a vida a toda, pelo menos enquanto viveu. Diz ele acreditar muito que esse fato tenha me tornado a garota tão independente que ele conheceu, pois aos 16 anos tive que começar a me virar por conta própria.
- Talvez, então, eu fosse uma garota com fortes problemas psicológicos – Foi a primeira impressão que tive de mim pela vida passada... E digo “vida passada” porque se tornou outra vida que talvez eu nunca mais possa voltar ou ter parecida. O fato é que, uma garota que tivesse perdido os pais aos nove anos de idade, mudando de país e começado uma vida com a avó, que a deixou completamente só aos 16 anos de idade, não teria uma cabeça fácil de compreender e nem seria uma pessoa amorosa e feliz com o mundo e a vida
- Não vou dizer que você não tinha Amber, pois nenhuma garota que passasse pelo que você passou conseguiria se tornar uma pessoa totalmente normal.
- Então isso confirma que eu era problemática? - Disse enquanto observava a cidade pela janela do carro; era um ambiente que me parecia bem movimentado, algo me dizia que toda aquela agitação era agradável à minha personalidade. Londres me parecia uma bela cidade
Percebi que a pergunta que dirigi a Oliver o incomodou, mas não sei o porquê e confesso que isso me deixou um tanto curiosa, ele estava parado olhando atenciosamente para o sinal, ou na verdade não, já que parecia mais estar concentrado na busca de palavras certas para o que viria a me dizer.
- Digamos, Amber, que talvez recomeçar tenha sido melhor - Ele olhou rapidamente para meus olhos e voltou o olhar para o sinal que estava se abrindo - Pense nisso como uma segunda chance de começar uma vida feliz.
Pensei todo o resto do caminho e não perguntei ou disse mais nada. Acho que ele esperava que eu encontrasse as duvidas e perguntas que ele pudesse tentar responder e que as lançasse quando estivessem prontas, mas a verdade é que eu podia entender bem o que ele quis dizer com as ultimas frases; eu não era uma pessoa feliz na minha vida passada e, por mais que tentasse meu passado e problemas ligados a ele tinham me afetado. Perder a memória podia ser um grande beneficio para alguém que sempre teve problemas com suas lembranças. Era uma chance de tentar novamente, aliás, eu não podia mais sofrer com algo do qual não havia nenhuma lembrança.

O bairro parecia agradável. Um conjunto de classe média alta, penso que dinheiro não era um dos nossos problemas.  A casa, bem era uma casa bem moderna, nada daquelas casas clássicas toda emoldurada e enfeitada, ela era básica em seu tom branco, seus vidros transparentes, nada de telhados monstruosos, havia um belíssimo telhado verde, com uma área social bem agradável para acompanhá-lo. Era uma casa maravilhosa, com belas vistas da cidade, um jardim que podia perder horas nele, apenas admirando e refletindo sobre o dia.
- Gosta da sua moradia? - Oliver me perguntou, enquanto eu admirava a casa, em seus mínimos detalhes, parada em frente à porta de entrada
- Ela parece agradável- Ele colocou um de seus braços sobre meu ombro e me puxou para perto dele.
- Você que escolheu ela.
- Bom, então eu acho que eu tinha um bom gosto.
- Não quer entrar para confirmar?
Fiz que sim com a cabeça, e após passar pela porta de entrada pude confirmar que eu realmente tinha bom gosto, cores, quadros, detalhes, mobília, tudo muito agradável, aconchegante e receptivo e talvez, quem sabe, fossem mais receptivos se me despertassem lembranças, mais as coisas continuaram como já estavam até ali, nenhuma memória.
- Acha que consegue viver aqui?
- Tranquilamente. -Disse admirando o local
Foi então que surgiu aos meus olhos uma senhora, saindo de uma das direções da casa
- Amber, essa é nossa querida Janet, e ela está aqui para lhe servir em tudo que for necessário.
Olhei para ela, ela estava sorridente, retribui o sorriso, era uma mulher já de mais de meia idade, seus olhos demonstravam sofrimento, com certeza uma pessoa muito experiente com os jogos da vida, Janet tinha um cabelo curto e escuro, pele branca, olhos castanhos, e uma magreza que aumentava ainda mais aquele aspecto de pessoa sofrida. Ela se aproximou de mim, e só me dei conta disso quando ela já estava bem próxima, de braços meio abertos em minha frente.
- Posso minha Senhora? .-Encarei sua ação, então em toquei de que na verdade ela queria me dar um abraço de boas vindas
- Claro que sim Janet - Abri ainda mais meu sorriso.
- Fico tão feliz em vê-la finalmente senhora, seja bem-vinda novamente a sua casa, estarei aqui para servi-la em tudo que for necessário
-Muito obrigada Janet - Disse retribuindo o abraço - E me perdoe, mais eu não me lembro de você.
- Eu sei minha senhora, Oliver já me deixou em alerta sobre toda a situação, espero que a senhora possa vencer isso.
Soltamos daquele abraço um tanto longo e apertado
- Eu também espero. - Disse dando um passo para trás e voltando a fitar levemente seus olhos
- Mas, venha senhora Amber, lhe preparei algo, imagino que você estar faminta.
Era verdade, eu estava faminta, a única coisa que tinha comido realmente sólida depois de dois meses, era a leve sopa da janta do hospital no dia anterior, que alias era horrível, e o café da manhã que tinham me servido mais cedo. Acompanhei Janet até a sala de jantar, onde uma farta mesa me esperava, segundo ela lotada de coisas que eu adorava comer,e assim eu ia conhecendo um pouco mais sobre mim, Oliver veio logo atrás e senti que aquele era um longo começo de muitas coisas que eu ainda viria a passar.

2 comentários:

  1. Bom, vejamos o que posso dizer.
    Primeiro gostei da maneira que voce escreve, nada culto ao extremo mas ainda sim é uma escrita bonita.

    Segundo o mundo normal nunca me atraiu, mas esse ta começando a ficar interessante.

    Terceiro continue escrevendo que quero ver isso se desenvolver eim ;D

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  2. Ambeer non acredite neles ç.ç eles sao bons demais XD ainda acho isso o.o'' but still loving it!

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