Capitulo 1
Minha cabeça
doía muito; abri meus olhos e a claridade me irritou um pouco, demorou alguns
segundos para que conseguisse ver com normalidade. Estava no que parecia ser um
quarto de hospital, porém aquele era um quarto totalmente desconhecido.
Olhei em volta,
como se procurasse algo que pudesse me explicar aquele momento; tentei lembrar-me
de algo, mas minhas memórias pareciam nunca ter existido; minha cabeça era um escuro,
um vazio completo, nada, apenas uma dor insuportável que me impedia de me
esforçar na busca de lembranças. Tentei me sentar para poder visualizar melhor,
mas esse esforço parecia que ia me matar; meu corpo doía terrivelmente e minha
cabeça agora parecia rodar, eu não devia sentar-me havia muito tempo.
A porta do
quarto de repente se abriu e vi uma enfermeira entrar; era gordinha e baixinha, de pele levemente
morena. Ela fitou meus olhos por alguns segundos e abriu um grande sorriso:
- Senhora Amber
Maxine! Você finalmente acordou, preciso avisar o Óliver!
- Ei... -Tentei
perguntar algo, mas ela me interrompeu.
- Espere um
segundo, já venho, não se mova! - Disse ela finalizando com a porta sendo
fechada.
Encostei-me a
cabeceira da cama, tentei pensar no que diabos estaria acontecendo; aquela
mulher me chamou de Amber Maxine, de repente me vieram estes pensamentos: “Amber?
Não me parece familiar... seria esse meu nome?”. Olhei meu corpo, o que me deu
um frio na espinha, estava cheio de ataduras.
- Bom seja o
que for, Amber, algo muito sério lhe aconteceu - Disse a mim mesma.
A porta voltou
a abrir-se
- Aqui estou eu
novamente, senhora Maxine. Como se sente? - Entrou a enfermeira, com uma
bacia e curativos novos.
- Com muita
dor... - Ela parou do meu lado e me olhou sorridente
- Já vou trazer
um medicamente pra aliviar isso, aliás, já o doutor vem examiná-la também e Oliver
estará aqui em alguns minutos... desculpe-me pela minha má educação, estou tão
feliz em vê-la acordada que até me
esqueci de apresentar-me, meu nome é Verena, sou a enfermeira que cuida de
você.
Dessa vez ela
não olhava mais, agora estava concentrada nos novos curativos que iria me
fazer.
- Tenho outro
problema também... - Ela começou a retirar as ataduras do meu corpo.
- Qual? - Ela
perguntou sem demonstrar muita preocupação, sua voz tinha um tom alegre, afinal
algo bom parecia ter realmente acontecido para ela.
- Eu não me
lembro quem eu sou. - Verena voltou a me fitar, mas agora seu olhar alegre e
seu sorriso haviam sumido.
- Lamento muito
por isso, Maxine, mas o médico disse que isso poderia vir acontecer; você vai
passar por tratamentos e vai conseguir
recuperar sua memória - Seus olhos castanhos me encararam agora com um
olhar triste e vi seus lábios darem um leve sorriso de consolo.
- Meu nome é
Amber certo?
- Sim, seu nome
é Amber Maxine, você tem 28 anos, é casada com Oliver Maxine e, acrescento, é uma
mulher de sorte por tê-lo! - Não sabia quem era meu marido, na verdade me
surpreendia o fato de eu ser casada, mas a forma que ela o mencionou não me
agradou, mesmo eu não sabendo quem ele era, eu já me sentia no direito de
sentir ciúmes, afinal, era meu! Ignorei aquilo no momento, não era isso o mais
importante agora. - Você sofreu um acidente, faz dois meses, teve que passar
por uma cirurgia, você teve um traumatismo craniano grave e certamente esse é o
motivo da sua perda de memória
- Você quer
dizer que estou aqui faz dois meses? – Sim perdi dois meses da minha vida numa
cama de hospital, mas isso não era pior do que ter 28 anos vividos e uma
memória em branco.
- Sim, você
passou dois meses em coma, pode levantar um pouco o braço? – Ergui o braço e
ela tirou o curativo de onde havia uma ferida quase que cicatrizada, uma ferida
que pelas proporções da “quase cicatriz” havia sido horrível.
Coloquei a mão
livre sobre minha cabeça e havia um curativo enorme ali também, alias,
precisava sentir como andava a causa dos meus maiores problemas, como
fisicamente aquilo estava. Confesso que
não tive a melhor sensação do mundo ao perceber que não tinha mais nem meu
cabelo, seja lá como ele foi um dia.
- Senhora
Maxine, não se preocupe, tudo vai ficar bem - Verena lançou-me um olhar triste
ao perceber meu estado e me entregou um lenço, foi então que eu percebi que
tinham lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
Senti um aperto
no braço no qual ela terminava agora de fazer um novo curativo, em seguida uma
batida na porta e um homem de uns 30 anos entrando por ela. Só pelo olhar eu
podia dizer que ele era Oliver, seu gesto, seu olhar, tudo transmitia a forma de
um homem apaixonado e alegre por me ver e triste ao mesmo tempo por me
encontrar naquele estado. Ele veio em minha direção, enquanto seus olhos se
enchiam de lágrimas, e me envolveu carinhosamente com seus braços. Não pude
corresponder, mas eu podia sentir o enorme carinho daquele desconhecido que me
abraçava, porém não podia retribuir aquilo, ele podia ser meu marido, mais isso
não mudava em nada o fato de que não havia nada em minha memória sobre ele.
Ele se afastou
um pouco e tentou me dar um beijo nos lábios, eu recuei, senti dó por um breve
momento daquele homem que deveria me amar tanto, mas a situação não me permitir
tocar os lábios de alguém que por enquanto não me significava nada.
- Perdoe-me -
Disse evitando olhar em seus olhos, pois eu sentia uma dor profunda ao encarar
o olhar triste que eu havia deixado em seu rosto após recusar aquele beijo.
- Tudo bem
Amber.
- Senhor
Oliver, eu sinto muito. Bem, vou deixar vocês dois a sós, mais tarde voltarei Maxine, para
trocar seu curativo da cabeça - Disse a enfermeira pegando suas coisas e
dando um leve sorriso para mim, em seguida eu e Oliver a acompanhamos com o olhar até ela se retirar do quarto.
Ele continuou
fitando a porta por mais alguns segundos e eu voltei meu olhar para ele, então
ele era realmente Oliver... Oliver Maxine, o cara com quem eu era casada. Não
era um homem feio, pelo contrário, era belo e muito bem vestido, tinha um
perfume que não me parecia tão estranho e que era muito bom, eu gostava daquele
cheiro levemente adocicado. Então aquele era o tipo de homem que me agradava,
alto, cabelos castanhos claros, olhos verdes profundos, e um corpo bem
definido, de fato eu era uma mulher de sorte.
Ele me olhou
nos olhos novamente, e digo : que olhar profundo!
- Você deve
estar com muitas dúvidas no momento, não é Amber? Bem, faça suas perguntas!
Disse Oliver
sentando na cadeira ao lado. Confesso que eu esperava que ele tentasse ser mais
amoroso comigo naquele momento e que ficasse mais surpreso e triste pela
situação, mas sua expressão parecia indicar que ele já esperava por aquilo, uma
expressão totalmente contrária do que indicava quando ele entrou no quarto,
pareceu até uma encenação todo aquele momento com a enfermeira.
- Você é meu
marido? - A primeira era só para confirmar.
- Sim - Disse
ele mostrando a aliança de ouro em sua mão; olhei para a minha e lá estava ela -
Somos casados fazem dois anos, não, não temos filhos.
- Você não me
parece tão surpreso com a situação.
- Eu já
esperava por isso, Amber - Agora ele levantou-se novamente, se aproximou de mim
e apoiou seu corpo no leito, olhou-me no fundo dos olhos - Faz dois meses que
venho te visitar e te vejo sempre na mesma situação, o médico me alertou varias
vezes que era quase certo que você não se lembraria de nada ao acordar. Eu
rezei todas as noites para que você ao menos se recordasse de algo, pelo menos
do sentimento que tinha por mim, mas agora vejo que nada restou em você. Pode
não parecer... Mas eu estou arrasado, Amber, e, por favor, não desejo que você
de forma alguma se sinta culpada por isso.
Já havia
desviado meu olhar do dele há algum tempo, nunca fui muito boa em encarar as
pessoas com olhares, claro que eu não me lembrava disso de mim no momento, mas
eu sentia o incomodo que olhar fixamente aqueles olhos me causava. Precisei
desviar e comecei a reparar no detalhes do quarto, enquanto as palavras deles
me enchiam de tristeza; o que eu podia fazer? Nada, eu não sabia quem eu era,
onde eu estava, onde morava, quem eram meus pais, irmãos, amigos, se os tivesse!
- Bom, e o que
você espera de mim?
- De você,
Amber? Nada. Eu só espero que você tenha força, aliás, acho que isso você tem
de sobra; pelo menos foi o que me mostrou durante todo o tempo que a conheci. Agora
só te peço paciência.
- Eu não era
uma pessoa paciênte? - Voltei o olhar a ele e dei-lhe um sorriso
- Nunca foi - Disse
ele agora em um tom menos serio - Você sempre foi de querer fazer as coisas na
hora, uma pessoa meio difícil de lidar e muito independente.
- Independente?
- Eu me senti realmente muito frágil no momento para pensar que eu era uma
pessoa independente - Bom se você diz, e para que você precisa da minha
paciência agora?
- Quero que
você tenha paciência para que eu consiga te fazer voltar a sua vida e consiga
voltar a ter seu coração.
- Acho que já
descobri como você me seduziu
- Como?
- Você é bom
nas palavras - Disse eu rindo de uma
forma bem discreta. E era verdade, era uma boa frase a ultima que ele usou para
tentar conquistar, talvez não tão boa, talvez clichê, mais sabia mexer com o
coração de alguém, e para quem naquele momento estava totalmente emocionalmente
abalado, aquilo ia bem.
O sorriso que
seguiu após meu riso discreto foi belo; é, ele tinha um belo sorriso. O vi
colocando a mão no bolso e retirando uma foto.
- Essa é você,
acho que você não deve se lembrar do seu rosto... Bem, mas aqui está você - Ele
fitou a foto por alguns instantes e depois me entregou - Bonita como sempre.
A garota da
foto não me era familiar, mas era linda e, se eu realmente era ela, eu me
achava muito bela, mas talvez eu fosse fotogênica e isso eu ia descobrir com o
tempo. Meus cabelos eram longos e negros e tinham belas curvas, curvas que
combinavam perfeitamente com meu rosto; minha pele era branca e meus olhos eram
grandes e verdes, minha boca era bem carnuda e, pela foto, eu gostava de um tom
avermelhado de batom. A roupa que eu usava na foto não me pareceu muito
adequada, era um vestido vermelho, um vermelho bem chamativo e deixava muitas
partes do meu corpo que parecia bem esbelto a mostra.
- Que tipo de
“biscate” eu era?
Ele riu da
minha pergunta, é claro que riria.
- Você não
tinha tanto bom humor assim antes - Ao
dizer isso, senti que uma breve fração de lembrança havia passado por sua
cabeça, pois seu sorriso se desmanchou em questão de milésimos de segundos -
Você não era uma biscate Amber, você era uma garota sedutora.
O barulho da
porta se abrindo desviou a minha atenção da pergunta que eu iria fazer em
seguida. Olhei na porta, um homem sorridente com uma prancheta na mão entrava
no quarto, estava vestido completamente de br
anco, deduzi
que ele fosse o médico.
- Pronta para
finalmente sair daqui Amber Maxine?
Eu espero realmente comentários do que acharam, e que sejam bem sinceros por favor x)